terça-feira, 12 de julho de 2011

Verde

o relógio já não batia
arrastando as horas com suas pesadas correntes
o som era distante
e o farfalhar das asas metálicas do ventilador
era o único som

não havia um coração
havia um vão coberto de sentimentos
um vazio insano
e uma dor vindoura
que sempre gentil afaga o peito ferido

me pergunto se gosto da dor
ela cuida de mim
me trás de volta ao meu mundo
mas o mesmo tempo dói

homens não gostam de sofrer
homens não gostam de amar
homens não gostam
ninguém possui gostos
não existe ninguém
somos apenas uma pequena parcela
do que idealizamos ser
bem distante do que hipoteticamente seriamos
se fossemos alguém

algumas palavras
alguns sentimentos
e nos achamos completos
perfeitos
com identidade
criatividade e inteligência

não passando de macacos
presos a mentes medíocres
e ainda temos a proeza de nos invejarmos
invejarmos o nada que não temos

se fosse dor pouco seria
se fosse amor nunca estaria
se eu fosse alguém eu seria você
seria somente vocês
seria o que eu amo
ou fui quem eu quis ser
um ser sem perspectivas
um ser sem prazer
apenas um vago
um vago invejoso
catando entre os mendigos
o pouco de pão que o amor me deixou

são apenas previsões
neste exato momento
até mesmo eu
o mais esperançoso dos pessimistas
tenho o coração divido
e por isso amo
amo a qualquer um que seja eu